Como é bom ouvir uma canção capaz de deixar a gente feliz. Limpa, clara e
direta. Para ouvir no carro pelas estradas, numa manhã de domingo.
Victor e Leo são artistas para grandes eventos, para lotar ginásios e
fazer a festa.
Mas, também, são maravilhosos e poderosos artistas do rádio.
Dizem que “houve” uma era do rádio. Errado; a era do rádio é agora e sempre. É pelo radio que vem a consagração.
O
cd “Boa Sorte Pra Você” traz essa proposta radiofônica, que é a base de
tudo. É daí que vem a popularidade. É daí que as canções disparam pelo
ar caçando ouvintes. O radio é o espírito da coisa.
A arregimentação,
os arranjos e a própria vocalização de “Boa Sorte Pra Você” nos levam
com gentileza e elegância e não nos confundem. A moçada se entrega
completamente e os shows de Victor e Leo são sempre celebrações em torno
das canções de felicidade. Tudo leve e solto, sem lenço e sem
documento.
Tudo começou bem lá atrás, nos tempos de Cornélio Pires
que foi quem inventou o personagem que fala errado e canta modas de
viola. Ele percebeu o jeito diferenciado de ser do caipira e
“radiofonizou” suas historias simples. A idéia era divertir as pessoas,
alegrar o ambiente. A dupla surge em função da viola ponteada que
precisava de um violão para deixar mais redondo. O músico do violão, já
que estava ali mesmo, começou a fazer um contracantozinho aqui, outro lá
e a coisa foi se ajeitando até o formato Tonico e Tinoco, um verdadeiro
achado musical. Um formato essencialmente brasileiro.
No final dos
anos sessenta, começo dos setenta com a grande transformação cultural do
planeta, o caipirismo cumpriu seu ciclo de vida ativa e desapareceu.
Apesar
de tudo, as músicas que eles fizeram continuaram agradando. Sérgio
Reis, com “Menino da Porteira”, Chitãozinho e Xororó,com “Rancho Fundo” e
Ellis, consagrando “Romaria”, uma nova proposta para a retomada do
gênero, mostraram que, na verdade, a música da cultura caipira não
estava morta; apenas se rearticulava, se repaginava e influenciava
artistas preocupados em achar uma nova expressão musical fundamentada
nos valores caipiras, sem dúvida um caminho mais difícil do que montar
uma banda de rock and roll.
Com a chegada de Chitãozinho e Xororó, a
popularidade do gênero se manifesta com todo o esplendor da sua
história. Sempre fora assim. Em 69, por exemplo, quando Tonico e Tinoco
anunciaram que iriam se apresentar num circo em São Miguel Paulista, a
polícia teve que intervir na estação da Luz para conter a multidão que
queria ir de trem.
Agora, relida e repaginada a música dos caipiras
voltava à cena. Seria ingenuidade pensarmos que essa retomada seria
possível utilizando apenas formatos antigos.
Fizeram uma espécie de
antropofagia histórica, preservando a idéia da dupla e o costume de
cantar para fazer a gente nunca esquecer quem é e somaram a isso a
linguagem contemporânea que se pratica. Tudo simples e prático.
Foi
assim que o eixo da música brasileira, que sempre girou no litoral,
começou também a girar no interior e outra realidade apareceu.
O
movimento que ficou conhecido como sertanejo conquistou o mercado e se
igualou a outros altamente populares, como a Bossa Nova, a Jovem Guarda e
o Tropicalismo. Todos nascidos de partos difíceis, é bom não esquecer.
Esses
“movimentos” são momentos mágicos, onde o mercado escolhe os artistas
capazes de reunir em torno de si o maior número de seguidores possíveis.
Assim, o sertanejo se estabeleceu.
Na seqüência dessa tendência
outras duplas vieram e muitas outras virão. Num futuro muito próximo os
nossos artistas diferenciados, aqueles que passarão para a história ao
lado de Noel, Chico e Tom Jobim, não terão mais que, necessariamente,
vir do samba. A música do Brasil central, agora é uma opção clara, uma
influência saudável de um interior articulado e, à sua maneira,
cosmopolita.
Victor e Leo, cientes desse processo, se prepararam
para o sucesso nas casas de shows especializadas e puderam vivenciar um
contato direto com um público de grande influência no comportamento
nacional.
Beleza, juventude e vozes bonitas, que não agridem e
penetram em espirais delicados em nossos ouvidos. Ouvindo Victor e Leo
ninguém se sente abandonado nem constrangido porque a sensação é boa
para todos.
Nada é feio.
O som das vozes exatas tem a precisão de
Vieira e Vieirinha e os vibratos, em determinados momentos, soam como
soavam os maravilhosos vibratos do trio Irakitan.
Percebo também um
certo “espírito de Gonzagão” que ronda deliciosamente muitas das canções
da dupla. Estão ali a estrada, o sertão, o fogão rústico, a lagoa e
sempre alguém a esperar. Aqui não avaliamos o lado dramático tão comum
na música caipira original porque esse departamento está desativado,
aguardando sua vez.
Victor e Leo é pra quem está de bem com a vida ou para quem está querendo chegar lá.
“Boa
Sorte Pra Você” é para as novas gerações de brasileiros que buscam os
valores que definirão a estética dos próximos muitos anos.
Canções de felicidade são e sempre serão o melhor caminho.